Corporeidade e Educação

Cultura e corporeidade de crianças e adolescentes: Um problema para a educação


O corpo é todo tempo transformado pela cultura ao longo da história. O sentir/pensar/agir e a dimensão biológica são modeladas pelas relações culturais.
Nas sociedades capitalistas, não só o consumo, mas os processos de exploração e mercantilização marcam a constituição do ser, contribuindo para a formação de seres humanos que vivem processos intensos de alienação.
Segundo Marx, citado por Quintaneiro, Barbosa e Oliveira (2001),

“O trabalhador é tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais cresce sua produção em potência e em volume. O trabalhador converte-se numa mercadoria tanto mais barata quanto mais mercadorias produz. A desvalorização do mundo humano cresce na razão direta da valorização do mundo das coisas. O trabalho não apenas produz mercadorias, produz também a si mesma e ao operário como mercadoria e justamente na proporção em que produz mercadorias em geral.”

Diante do exposto, é necessário perguntar: O que as influências culturais vêm produzindo na corporeidade de crianças e adolescentes no âmbito escolar e social?
Na medida em que a cultura capitalista estabelece como referência a desvalorização do humano frente às coisas impõe padrões de beleza tipificados, impondo uma imagem estética “perfeita”, fortalecendo a corpolatria. Nesse processo, crianças e adolescentes são estimulados a se envolverem nesse sistema, assumindo condutas de consumo e de expressão da vida subordinados à lógica mercantilizada.
A propagação desses padrões impostos pela própria sociedade traz uma relação constante de dependência entre beleza ser igual à felicidade, fazendo com que as comparações entre o belo e o feio, o bom e o ruim ou o que é aceito e o que não é aceito pelo meio social seja refletida de forma drástica no ambiente escolar e social envolvendo a vida de crianças e adolescentes.
A anorexia e a bulimia podem ser citadas como exemplos das consequências produzidas sobre adolescência. Elas são doenças psiquiátricas caracterizadas como “transtornos alimentares”. Seu desenvolvimento pode levar a desestruturação da vida social, e em casos extremos levar à morte; em grande parte acometem a vida de jovens, principalmente do sexo feminino com faixa etária entre doze a quinze anos de idade, mas dados atuais mostram que esses transtornos estão presentes em crianças na faixa etária escolar.
Qual a importância que essa problemática deve ganhar no ambiente escolar, levando em conta o papel da escola?
Considerando que a instituição escolar deve assegurar o acesso ao conhecimento sistematizado sobre a realidade social e natural a partir das ciências exatas, biológicas, humanas e sociais. É possível afirmar que a escola deve problematizar os fenômenos que envolvem a constituição do ser na cultura capitalista. Isso significa que a escola deve potencializar o pensamento crítico de modo a superar os condicionamentos culturais que desvalorizam a vida.

Referências:

BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia de; QUINTANEIRO, Tania. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: UFMG, 2001.

DAOLIO, Jocimar. A Construção Cultural do Corpo Humano. Da Cultura do Corpo. Campinas, 1995.

BERGER, Mirela. Mídia e Espetáculo no Culto ao Corpo: O Corpo Miragem.
Universidade federal do Espírito Santo, 2007.

BENORINO, Xavier Marcio. A Corporeidade Na Escola. Revista Educação, Santa Maria: Faculdade de Educação, 1991.

SAVIANI, Demerval. Sobre A Natureza E Especificidade Da Educação.
Pedagogia Histórico e Crítica: Primeiras Aproximações. Campinas, 2005.